quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Confissões do mar

Aquela praia era das poucas coisas que maravilhava Pete. Não sabia dizer porquê, mas aquela suave brisa marinha que cortejava gentilmente a sua pele era uma espécie de droga. Tal como era uma droga a imagem da ideal doçura amarela da areia a ser lentamente afogada pela salgada e fria água do mar. O horizonte que era delineado tenuemente pelo mar deixava Pete perplexo. Aquela praia era a sua pequena maravilha.
A sensação da areia a esconder-se timidamente nos pés fazia Pete sorrir.
Olhou para Brennan. Talvez ela não gostasse tanto daquela praia como ele. Mas sem dúvida que o amava. Aquele sorriso que estava constantemente desenhado na sua cara era a prova disso. Pete sabia que ela podia estar no lugar mais irritante, menos asseado e mais incomodativo do mundo, mas não era por isso que o sorriso fugiria da cara tão bem feita de Brennan. Não se estivesse a apertar a forte mão de Pete e se estivesse a olhar para a cara dele. Isso era algo que simplesmente não acontecia. Tal como Pete nunca a deixaria de amar.
Mas em conjunto com este doce sentimento de felicidade misturava-se sorrateiramente um esquisito impulso de voltar a ser quem costumava ser. Era algo no mínimo extraordinário conseguir sequer atrever-se a pensar na sua outrora condenada, solitária e inútil vida enquanto se encontrava com aquela mulher.
Pete voltou à realidade e apercebeu-se que o sol já se escondia atrás do imenso mar, numa cerimónia solene de despedida. Outra das maravilhas da praia. Aquele raro momento entre a noite e o fim da tarde era no mínimo precioso. O sol dizia adeus de maneira inusitada e era esperado com ansiedade até à manhã seguinte.
Brennan pegou na sua mão e levou-o à beira mar. Os seus pés eram massajados ligeiramente pela castanha areia molhada. Como delicada era a mão de Brennan! As linhas da palma da mão pareciam dançar ao ritmo lento das ondas a desfalecer na areia pura daquela praia. Aquele momento era raro e valioso. Talvez nunca mais houvesse nenhum momento assim na vida de ambos. Era melhor esquecer tudo o que se sabia acerca do mundo, do universo, da vida. Esquecer tudo e saborear cada segundo que passava, cada onda que se desfazia, cada pedra preta que se via.
Os dois aproximaram-se do mar e sentiram a água fria a escorrer pelos dedos. Naquela água juntavam-se as lágrimas dos marinheiros, das mulheres que os esperavam. Juntavam-se as lágrimas de alegria dos familiares daqueles que voltaram; as de tristeza daqueles que se perderam na impiedade do mar.
Mas, naquele momento, tudo isso fora apagado da cabeça de ambos. Apenas restava o amor e o bem-estar que sentiam naquele terno momento.
Continuaram a andar em direcção ao longínquo horizonte. A água começou a subir pelo tornozelo transportando uma sensação de frio para o corpo dos dois. O mar continuou a cobrir a perna até à cintura. Nessa altura olharam-se os dois, sem precisar de palavras para exprimir nada. Aquele olhar explicava o suficiente. Ficaram assim durante um bocado de tempo, apenas a olhar para os profundos olhos um do outro. Pete via nos olhos azuis de Brennan o mar reflectido, tal como se de um espelho se tratasse.
Logo a seguir os passos incertos e descuidados de Pete acompanharam a doce mão de Brennan através do frio mar de Dezembro. As roupas estavam todas molhadas e a leve brisa atirava frio contra ambos. Mas agora nada importava, porque o frio também fora esquecido.
Depois houve um momento ainda mais precioso que todos os outros. Novamente foram lançados aqueles olhares que só eles sabiam fazer. Mas desta vez houve palavras.
- Amo-te. – disse levemente Brennan.
Pete sentiu o frio a tentá-lo a sair da água, mas resistiu. Por aquela mulher era capaz de tudo. Nem que implicasse a sua morte.
Os olhares continuaram nas suas caras e aproximaram-se um do outro. Pete chegou ao ouvido suave de Brennan e sussurrou três palavras.
- Também te amo.
Os dois apertaram-se um contra o outro e beijaram-se. O mar cobriu-os e, naquele momento, ambos esqueceram o respirar. Porque isso não era preciso. Aquele momento era imortal.
Bernardo Mota, 8º D

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