segunda-feira, 22 de março de 2010

LER PARA CRER



Eu, Adriana Silva, aluna do 8º E, tive acesso a variados tipos de livros desde pequena, mas só me comecei realmente a interessar pelo seu conteúdo quando a minha professora da escola primária propôs à minha turma a leitura de um livro, à nossa escolha, da biblioteca existente no local. Assim, comecei a desenvolver o meu gosto pela leitura. Inicialmente, era mais atraída pelas ilustrações dos livros e não tanto pelo seu conteúdo, porém, gradualmente, passei a ser mais influenciada pela beleza das palavras e das histórias. Isto não quer dizer que me desagradem as histórias simples, mas que acho os contos complexos mais intrigantes e desafiadores à minha capacidade de compreensão e dedução.
Tenho o hábito de ler livros de ficção científica, banda desenhada, policiais, romances, fábulas, poemas… Gosto de variar no tipo de livros que leio, para não tornar a leitura demasiado contínua sobre um certo tema, devido, principalmente, ao facto de haver livros parecidos, o que, mais tarde ou mais cedo, começa a tornar a leitura um pouco entediante. Adoro ler livros com temas pouco explorados ou abordados, o que torna a leitura mais interessante e agradável. Um dos mais importantes pontos de uma narrativa é o estilo de escrita do autor: quanto mais atractivo for, mais agradável torna o enredo, transformando até uma má história num bom livro.

Leio porque não há melhor maneira de passar o tempo livre! Um livro excelente pode tornar a mais aborrecida e degradante das viagens numa aventura incrível e excitante com a nossa personagem favorita! A verdade é que, quando leio, sou completamente absorvida do mundo “real”, deixando a minha mente vaguear nas palavras que descrevem os locais, sentimentos, personagens… Não gosto de deixar as histórias inacabadas e, quando acabo os meus momentos de leitura, passo o resto do dia a pensar no que li e a ansiar por saber o resto dos acontecimentos. Cada livro é uma fonte de acontecimentos, conhecimentos e lições, que têm um significado diferente para cada pessoa, consoante o seu estado de espírito, idade, etc. Mas, mesmo assim, cada um tem ensinamentos para dar em cada caso. Embora as palavras sejam as mesmas, os seus significados podem ser muito diferentes.

Neste momento, estou a ler A Bússola Dourada de Philip Phulman, o primeiro livro da trilogia Mundos Paralelos. Fala de uma rapariga chamada Lyra e do seu génio, a sua alma, pois neste mundo a alma vive fora de cada um, na forma de animal e as almas das crianças não têm forma definida. O livro baseia-se na vida desta menina que, durante uma reunião dos académicos do colégio onde vive, descobre a existência de Pó, substância que vai estar no centro do livro, pois é ela que faz a bússola de Lyra funcionar. A bússola permite a Lyra, (que tem uma capacidade inata para lê-la) saber a verdade sobre tudo. Basta que ela lhe pergunte o que quiser. Este instrumento vai também ser a fonte de conflitos, devido às informações que pode fornecer, além de ser objectivo principal de algumas personagens obtê-la. Espero que Lyra e Pan (Pantalaimon, o seu génio) saibam como protegê-la…

Escolhi este livro porque o seu escritor tem um estilo semelhante ao dos meus livros favoritos, C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien, e também porque já vi o filme, que considero excelente. O resumo do livro agradou-me especialmente, pois denota uma história bem concebida.

Estou a gostar porque a personagem principal demonstra uma inteligência, uma astúcia, um atrevimento e uma coragem fora do normal.

O livro que mais me marcou foi o Diário de Helen Keller, que conta a vida de uma menina que nasceu sem ouvir e sem ver e cujo mundo começa a ser iluminado por uma professora que lhe ensina o abecedário através de uma certa combinação de movimentos dos dedos das mãos. Assim, a menina aprende a falar. As suas capacidades de olfacto e tacto mais apuradas chegam até a salvar a sua família de um incêndio doméstico. Este livro marcou-me, porque me mostrou que, com esforço e dedicação, se pode obter tudo, mesmo nas piores condições.
ACONSELHO-VOS VIVAMENTE A LER:
A Minha Família e Outros Animais, de Gerald Durrell, da editorial Presença. Gerald e a sua família mudam-se para Corfu, uma ilha da Grécia, depois de um Verão chuvoso em Inglaterra. Durante cinco anos, Gerald, que tem uma paixão irracional pela natureza, relata as suas intermináveis aventuras naquela bela ilha;
David Copperfield, de Charles Dickens. O livro conta a história de David, uma criança sem pai, que vai passar algum tempo na casa do irmão da empregada da mãe e que, quando volta, descobre que tem um padrasto. Este acaba por enviá-lo para um colégio interno onde, mais tarde, fica a saber da morte da mãe e do seu irmão recém-nascido. A partir desse momento, a vida de David começa a ficar cada vez pior, até que o seu padrasto decide pô-lo a trabalhar. A história mostra a força de vontade deste rapaz que decide não se render às misérias que rodeiam a sua existência.
Espero que apreciem as minhas escolhas e as minhas opiniões sobre este tema tão vasto.
Adriana Silva

Boletim Informativo

Consulta o Boletim Informativo de Março.


BI Março

21 de Março - DIA DA ÁRVORE


A origem da “Festa da Árvore”, que se realizou pela primeira vez no Seixal em 1907 por iniciativa da Liga Nacional de Instrução, encontra-se intimamente associada aos ideais e valores do republicanismo, destacando-se de modo muito particular nos primeiros anos da I República. Entre 1912 e 1915, as festas da Árvore seriam fortemente impulsionadas pelo jornal Século Agrícola, com especial relevo para a que se realizou na Amadora, em 1913.
A par da sensibilização para a protecção das florestas nacionais, este modo de celebrar a árvore veio cumprir também um ideal educativo, pedagógico e cívico mais amplo, ao dirigir-se em especial às crianças e jovens em idade escolar que, no seu conjunto e ao plantar simbolicamente uma árvore, descobriam o seu património florestal e ocupavam o seu espaço próprio de participação e cidadania. Ao acto de plantação associavam-se também palestras e textos educativos sobre a árvore e a importância da floresta, sem esquecer os poemas compostos pelos alunos e recitados durante a festa ou ainda os hinos cantados em uníssono como homenagem à árvore. A profunda actualidade desta iniciativa, aliada à importância dos valores que hoje se celebram e reafirmam com as comemorações do centenário da República, vem justificar a realização da “Festa da Árvore”, que contará com a plantação simbólica da Árvore do Centenário.
In www.portaldasescolas.pt

quarta-feira, 17 de março de 2010

A biblioteca da escola vai realizar um Concurso de Escrita, UMA AVENTURA REAL.

Todos os alunos do agrupamento podem participar, por isso esperamos pelo teu texto.
Antes de começares, lê o regulamento abaixo.
Se necessitares de mais informações, dirige-te à biblioteca ou informa-te do teu professor de Português.

PARTICIPA!!!

REGULAMENTO
Objectivo
Motivar os alunos para escrita.

Como participar
Redige um texto, em prosa (sob a forma de conto, texto jornalístico, etc.) ou em poesia, que aborde explícita ou implicitamente o tema UMA ESCOLA DE VALORES.

Concorrentes
Podem participar todos os alunos do Agrupamento de Escolas de Real.
Os trabalhos deverão ser individuais.
Cada candidato só pode apresentar-se a concurso com um trabalho.

Trabalhos
O texto apresentado a concurso deverá ser processado a computador e não poderá ter mais de 10 páginas A4, com espaçamento duplo, tipo de letra Times New Roman, tamanho 12.
O trabalho deve ser assinado e conter os dados completos do candidato.

Envio dos trabalhos
Os trabalhos deverão ser entregues na Biblioteca ou ao professor da disciplina de Língua Portuguesa.

Calendário
Os trabalhos deverão ser entregues até ao dia 28 de Maio de 2010.

Divulgação
O resultado do concurso será anunciado no portal da Escola e no blog da Biblioteca.

Prémios
Serão premiados os três melhores trabalhos de cada um dos escalões:
1º escalão: 1º ciclo
2º escalão: 2º ciclo
3º escalão: 3º ciclo.

Entrega dos prémios
A entrega dos prémios realizar-se-á em data a designar.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Pequeno Trevo

Os alunos da Unidade Multideficiência brindaram a turma C do 5º ano com uma representação lidíssima e repleta de alegria da história "O Pequeno Trevo".

Sobre O PEQUENO TREVO

É uma história sobre um pequeno trevo que nasceu diferente porque em vez de três folhas, tinha quatro e vivia muito triste. Sendo diferente, todas as pessoas e animais o olhavam com desprezo e ninguém queria ser seu amigo.
Um dia, surge um menino e tudo muda...
Queres conhecer o resto da história?
Dirige-te à biblioteca.

É uma história muito bonita que permitiu mostrar aos alunos que não somos todos iguais e que não devemos desprezar ninguém só porque é diferente.

Todos DIFERENTES, todos IGUAIS.




Clube Contadores de Histórias


Um Narciso Amarelo


Morris Kaplan vive num pequeno apartamento por cima de um restaurante muito frequentado. Todas as noites, os sons abafados de mesas a serem postas, de música a tocar, de pessoas a falar e a rir fazem-lhe companhia enquanto prepara e come o seu jantar e enquanto lê o jornal da tarde. Morris adormece com frequência na sua poltrona, junto à janela, com o jornal estendido sobre os joelhos, como se fosse um cobertor. Dorme lá toda a noite, ainda de roupão e chinelos.
De manhã, acorda cedo, mesmo antes de entregarem o leite e os legumes no restaurante. Veste-se com cuidado e come um pequeno-almoço de torradas, geleia e chá, que toma num copo. Depois sai, liga a carrinha e começa a longa viagem até ao mercado das flores.
Hoje, Morris caminha devagar por entre os enormes recipientes cheios de íris, margaridas, cravos, rosas e lírios. Inspira o ar cheio de fragrâncias. Escolhe um cravo vermelho numa das tendas. Passa a mão devagar pelas pétalas, examina o caule e afasta-se. Morris tem por hábito escolher apenas as flores mais frescas e bonitas para a sua loja.
Olha em volta. Os baldes, as tendas e as paredes são cinzentos e apagados. A maioria das pessoas está vestida com fatos escuros ou tem aventais. Só as flores emprestam algum colorido ao mercado. Morris pensa num tempo distante, quando tudo à sua volta era escuro e triste. Numa manhã de Primavera, viu uma flor de um amarelo vivo a crescer num lugar estranho. A flor deu--lhe esperança e coragem. Morris acredita que essa flor lhe salvou a vida.
Enxuga uma lágrima e dirige-se a outra tenda, que tem baldes de rosas. Escolhe uma rosa e cheira-a. Depois sacode-a com gentileza.
Uma hora depois, a carrinha está cheia de flores. Morris regressa à loja e leva-as para dentro.
Ainda é muito cedo. São poucas as pessoas a passar diante da loja. Morris rasga um pedaço de um rolo de papel de embrulho e forra a sua mesa com ele. Coloca uns raminhos de gipsófila sobre o papel, seguidos de cravos brancos e vermelhos. Embrulha as flores e coloca o arranjo num recipiente. Rasga então um novo pedaço de papel.
Quando o recipiente está cheio, Morris coloca no frigorífico com porta de vidro os arranjos que acaba de fazer, juntamente com o resto das flores que comprou no mercado.
Lá fora, há mais pessoas a passarem diante da loja. As crianças vão a caminho da escola e Morris põe-se à porta a vê-las.
─ Sr. Kaplan! ─ chamam um rapaz e uma rapariga. ─ Bom dia! Bom dia, Sr. Kaplan!
Morris acena às crianças, que vêm ter com ele.
─ Hoje estamos atrasados. Não podemos parar para conversar. Voltamos mais tarde, no caminho de regresso a casa.
Morris sorri.
─ Bem sei. Hoje é sexta. Até logo.
Morris vê-as afastarem-se. Quando deixa de vê-las, entra na loja.
Logo entra uma cliente.
─ Queria um ramo bonito para o meu marido. Faz anos hoje.
Morris abre a porta do frigorífico e mostra-lhe os arranjos que fez. Também lhe mostra os baldes de rosas, cravos e crisântemos.
─ Levo doze cravos ─ diz a mulher. ─ Será que pode juntar brancos e vermelhos?
Enquanto Morris arranja as flores, a cliente olha em redor para os muitos vasos e plantas da loja. O florista mistura os cravos: seis vermelhos, seis brancos, e seis cor-de-rosa. Rasga uma folha de papel de embrulho e adiciona alguma gipsófila.
A mulher exclama:
─ Que bonito! Mas eu só queria uma dúzia de flores!
─ As flores brancas e vermelhas são um presente seu. As cor-de-rosa são o meu presente para o seu marido.
Ao início da tarde, as crianças começam a voltar da escola. A rapariga e o rapaz que cumprimentaram Morris de manhã entram na loja.
─ Olá, Sr. Kaplan ─ saúda a menina.
─ Olá, Ilana. Olá, Jonathan.
Ilana conta:
─ Hoje tivemos teste a Matemática. Era sobre fracções. Foi difícil. E também tivemos um ditado. Mas isso foi fácil.
Tira uma bolsinha da mochila.
─ Precisamos de algumas flores. Só nos sobraram dois dólares das mesadas. Podia vender--nos algumas flores velhas? São só para hoje e amanhã.
Morris diz, a sorrir:
─ Eu sei. Têm de estar bonitas para o Sabbath.
─ Shabbat ─ corrige Ilana.
─ Shabbat ─ repete Morris.
Abre o frigorífico e tira um dos arranjos que fez de manhã. Coloca-o sobre a mesa e rasga o papel de embrulho. Volta ao frigorífico para ir buscar alguns cravos vermelhos, cor-de-rosa e brancos, aos quais adiciona alguns crisântemos. Embrulha o arranjo em papel novo. Depois entrega-o a Ilana.
─ São muitas flores por dois dólares ─ comenta esta, enquanto dá o dinheiro a Morris.
Morris sorri:
─ Quando se compram flores velhas, leva-se maior quantidade.
É Dezembro e a noite cai cedo. Morris fica na loja até estar bem escuro. Antes de sair, verifica as flores que sobraram. Ainda há muitas para o dia seguinte. Ainda bem. Ao sábado faz-se muito negócio.
Guia de volta a casa. Vive perto da loja e podia ir a pé, mas gosta de ter a carrinha com ele, para o caso de necessitar dela. Nos seus quase quarenta anos de vida naquele apartamento e naquela loja, nunca teve de ir a correr a lado algum. No entanto, gosta de ter a carrinha por perto.
A neve cai durante toda a noite de domingo. Segunda de manhã, a caminho da loja, Morris ouve as notícias sobre o estado do tempo, sobre as condições de circulação nas estradas e sobre o encerramento de algumas escolas. A escola de Ilana e de Jonathan está aberta. Morris fica contente. Tem saudades deles.
Uma vez na loja, faz mais arranjos de flores e depois vai até à porta, a tempo de ver as crianças irem para a escola.
No dia seguinte, de tarde, Jonathan e Ilana vêm à loja.
─ Gostávamos de comprar algumas flores ─ diz Ilana.
─ Mas hoje não é terça? ─ estranha Morris.
─ É.
─ Mas vocês compram sempre flores para o Sabbath. O Sabbath só começa sexta à noite.
─ Bem sei ─ sorri Ilana ─ mas hoje é a primeira noite do Hanukkah.
Morris abre a porta do frigorífico:
─ Escolham o que quiserem.
─ Só temos cinco dólares ─ avisa Ilana.
─ Escolham o que quiserem. Quando tiverem escolhido cinco dólares de flores, mando--vos parar.
Os irmãos escolheram flores suficientes para um grande ramo. Morris embrulhou-as e deu-as a Ilana.
─ Não celebra o Hanukkah? ─ perguntou Jonathan.
─ Não.
─ Celebra o Natal?
─ Não ─ respondeu Morris, suavemente. ─ Não celebro nenhum deles. Quando era rapazinho e vivia na Polónia, celebrava o Hanukkah. Mas isso foi há muitos anos.
Depois das crianças saírem da loja, Morris senta-se à mesa e pensa nos seus Hanukkah na Polónia. Foi há muito tempo que andou na escola, que estudou o Talmud e os outros livros sagrados. Lembra-se de ajudar o pai na alfaiataria, de acender velas no Hanukkah, e de receber algumas moedas como prenda. Pensa nos seus pais, no seu irmão, nas suas duas irmãs ─ e no que lhes aconteceu.
Na tarde seguinte, os irmãos vêm de novo à loja.
─ Não pode ser! ─ exclama Morris. ─ Compraram tantas flores ontem que não podem precisar de mais já hoje. Não murcharam, pois não?
Ilana respondeu:
─ De modo algum. As flores estão óptimas. São muito bonitas. Mas a Mamã disse que tínhamos de o convidar para nossa casa hoje à noite. Janta connosco e acendemos juntos as velas do Hanukkah.
─ Não posso. Tenho de ficar na loja.
─ A Mamã disse que podia vir depois de fechar.
Morris abana a cabeça.
─ Mas a essa hora já será tarde demais. Só fecho às oito.
─ Não faz mal. Nós esperamos sempre pelo Papá, que só chega depois das oito.
Antes de Morris retorquir de novo, Ilana escreve a morada num papel e diz-lhe:
─ Esperaremos por si, também.
Depois das crianças saírem, Morris olha em volta. Quer levar-lhes um presente, mas a família já tem flores. Pega numa taça de cerâmica da prateleira e coloca-a na mesa. É uma taça muito bonita. Olha para ela longamente. Depois abana a cabeça.
─ Somos parecidos. Estamos vazios. Tenho de arranjar uma bela planta para te encher.
Põe um vaso de hera dentro da taça. Amarra uma fita azul à planta. Começa a escrever um cartão Caros Sr. e Sra.… Mas dá-se conta de que não sabe o nome de família das crianças. Pega num outro cartão e escreve Obrigado por me terem convidado para jantar. Morris Kaplan.
Nessa noite, fecha a loja mais cedo. Vai para casa, barbeia-se e muda de camisa. Pega na taça com a hera e conduz até à morada indicada no pedaço de papel. Ilana e Jonathan moram no apartamento 2C. O nome escrito na porta é Becker. Morris bate à porta.
─ Entre, entre ─ convida a Sra. Becker. ─ É o Sr. Kaplan, não é?
Morris entrega-lhe a taça com a hera e depois olha em redor. Há flores por todo o lado.
─ Deu tantas às crianças que não podíamos pô-las todas numa jarra.
Ilana e Jonathan estão junto da janela. Jonathan segura uma caixa de fósforos multicores e entrega-os, um a um, a Ilana.
─ Hoje quero que os meus sejam azuis ─ e dá três velas azuis a Ilana. Esta põe-nas no candelabro (menorah) de Jonathan: duas à direita e uma no centro, um pouco mais elevado do que os braços laterais.
─ Que cor quer? ─ pergunta Jonathan a Morris.
─ Vou só ficar a olhar ─ responde o velho florista.
─ Temos um candelabro só para si ─ informa Jonathan.
─ Obrigado, mas fico só a ver ─ declinou Morris.
Quando Ilana e Jonathan estão a acabar de preparar os candelabros, o pai chega. Cumprimenta Morris e depois todos se acercam da janela. O Sr. Becker reza as orações e acende as suas velas. Depois é a vez da Sra. Becker, de Ilana e de Jonathan. Cantam juntos Ha-Nerut Hallalu (Estas Velas) e Ma’oz Zur (Rochedo dos Tempos).
Enquanto as velas ardem, jogam um jogo de dados. Cada um põe uma passa coberta de chocolate no meio da mesa e deita os dados à vez, para ver a quem toca o doce. Quando Jonathan não está a lançar, está a comer.
─ Vamos jantar ─ sugere a Sra. Becker ─ antes que Jonathan coma todas as passas do jogo.
Ao jantar, Morris não pára de falar de flores. A sua favorita é o jacinto.
─ Encho uma taça com seixos e coloco um bolbo de jacinto em cima. Mantenho os seixos húmidos. Quando o jacinto floresce, delicio-me com a sua cor, beleza e cheiro.
─ Teve sempre um interesse assim tão grande por flores? ─ pergunta a Sra. Becker.
Morris olha para o prato e responde:
─ Não. Quando era novo, não havia flores à nossa mesa. Os meus pais estavam demasiado ocupados a pensar na vida. Éramos muito pobres.
Ergue a cabeça e continua:
─ Queria ser alfaiate, como o meu pai. Ele tinha umas mãos mágicas. Conseguia pegar num pedaço insípido de tecido e fazer dele um fato digno de um casamento. Mas veio a guerra e não pude pensar mais em tecidos ou fatos.
─ Serviu no exército?
─ Não.
─ Não viu soldados a lutarem?
─ Não.
─ Jonathan, não faças tantas perguntas ─ pediu a mãe.
Enquanto as crianças falam sobre a escola, Morris pensa nos Hanukkah que celebrou há muitos anos atrás.
Depois da sobremesa, Morris agradece a hospitalidade e sai. Uma vez em casa, vai ao armário e tira de lá uma caixa velha. Dentro desta estão um copo de metal, uma camisa rasgada, um chapéu de criança e um velho candelabro. Morris segura-o nas mãos e chora.
No dia seguinte, leva o candelabro com ele para a loja. Limpa-o e põe-no à janela. Olha-o com frequência durante o dia.

Nessa mesma noite, depois de fechar a loja, coloca o candelabro no assento dianteiro da carrinha. Enquanto guia, lembra-se da última vez que o usou. A irmã ajudara-o. Foi antes de os nazis terem vindo à sua aldeia e de o terem levado, juntamente com a família, para um gueto. Mais tarde foram deportados para Auschwitz.
Morris lembra-se dos horrores daquele lugar. Lembra-se de que foi separado da família.
Uma manhã, quando já tinha perdido toda e qualquer esperança de sobreviver, viu uma pequena flor amarela, um narciso, que tinha desabrochado mesmo à porta do seu barracão. A chuva, que Morris amaldiçoara por causa da lama que trazia, tinha alimentado a flor, que agora procurava o sol. Se o narciso consegue sobreviver aqui, talvez eu também consiga, pensou Morris. Morris sabe que foi a sorte, mais do que qualquer outra coisa, que o salvou. Mas sente que aquela flor o salvou também.
Pára num semáforo vermelho e dá-se conta de que não vai na direcção de sua casa. Está à porta da casa dos Becker. Estaciona a carrinha, pega no candelabro e entra. Fica um pouco à porta do apartamento 2C antes de tocar à campainha. Olha para o candelabro e bate à porta.
─ Sr. Kaplan! Entre! ─ convida a Sra. Becker.
─ Este é o candelabro que eu usava quando era novo ─ diz-lhe Morris.
Senta-se à mesa e fala-lhes da família que perdeu e do narciso amarelo.
─ Depois da guerra não tinha para onde ir, por isso fui para casa. Estava lá outra família a viver. Estavam a usar a nossa mobília, as nossas panelas e pratos, e vestiam as nossas roupas. Não ficaram felizes por me ver, mas deram-me uma pequena caixa com as coisas que não queriam. O nosso candelabro estava nessa caixa.
Há lágrimas nos olhos de Morris.
─ Pensei que ia encontrar alguns velhos amigos na aldeia, mas não encontrei. Não tinha ninguém.
A Sra. Becker segura as mãos de Morris e diz-lhe:
─ Agora tem-nos a nós.
Morris põe o seu candelabro à janela. Jonathan dá a Ilana quatro velas. Esta põe-nas no candelabro. Os Becker ouvem com atenção enquanto Morris diz as orações, e observam-no a acender as velas para celebrar o Hanukkah.
David A. Adler
One Yellow Daffodil
Orlando, Voyager Books, 1999

terça-feira, 9 de março de 2010

Clube Contadores de Histórias



O pão dos outros



Remi está a conversar com a avó.


Gosta de a ouvir falar dos seus tempos de menina.


– Na minha aldeia, na Provença, pelo Ano Novo, no primeiro dia de Janeiro, toda a gente oferecia uma prenda a toda a gente. Vê lá se és capaz de adivinhar o que seria.


Remi lança palpites:


– Comprar prendas para a aldeia inteira… É preciso muito dinheiro. Quer dizer que as pessoas eram ricas?


A avó riu-se:


– Oh, não! Naquele tempo, tinha-se muito pouco dinheiro e ninguém na aldeia comprava prendas. Nem sequer havia lojas como há hoje.


– Então faziam as prendas?


– Não propriamente!


– Então como é que faziam?


– Era muito simples. Ora ouve…


Antigamente, cada família fazia o seu pão. Não havia água corrente nas casas. Então íamos buscá-la à fonte, no largo da aldeia.


E, no dia um de Janeiro, de manhã muito cedo, a primeira pessoa que saía de casa, colocava um pão fresco no bordo da fonte, enquanto enchia a bilha de água. Quem chegava a seguir pegava no pão e punha outro no mesmo lugar para a pessoa seguinte, e assim por diante…


Desta forma, em todas as casas, se comia um pão fresco oferecido por outra pessoa. Nem sempre se sabia por quem, mas garanto-te que o pão nos parecia muito bom porque era como se fosse um presente de amizade.


As pessoas que estavam zangadas pensavam que talvez estivessem a comer o pão do seu inimigo e isso era uma espécie de reconciliação…



Durante alguns dias, esta história andou a martelar na cabeça de Remi.


Uma manhã, teve uma ideia.


Meteu no bolso uma fatia de pão de lavrador. É o pão que se come na casa de Remi.


E na escola, um pouco antes do recreio, Remi pousou o pão bem à vista, em cima da carteira de Filipe, o seu vizinho.


Filipe está sempre com fome e repete sem cessar a Remi:


– Oh! Que fome, que fome eu tenho! Bem comia agora qualquer coisa!


Quando Filipe viu a fatia de pão, que rica surpresa! Sabia muito bem quem lha tinha dado, mas fingiu que não sabia.


No recreio, todo contente, comeu o pão sem dizer nada a Remi, mas…


No dia seguinte, sabem o que é que Remi encontrou em cima da carteira, mesmo antes do recreio? … Um pedaço de cacete!


Um grande pedaço bem estaladiço! Um verdadeiro regalo!


Filipe ria-se.


E assim continuaram a dar um ao outro presentes de pão.


Na aula, a Carlota e a Sílvia estão sentadas logo atrás de Filipe e de Remi. Rapidamente souberam da história do pão e quiseram também participar nas surpresas.


No dia seguinte, Sílvia levou uma fatia de cacetinho Carlota uma fatia de pão centeio.


Outras crianças quiseram participar nas prendas de pão.


Apareceu pão grosseiro, pão de noz, pão de sêmea, pão sem côdea, pão caseiro, pão fino, pão russo, negro e um pouco ácido, que Vladimir levou, pedaços de pão árabe, que a mãe de Ahmed cozera no forno, e ainda muitos outros tipos de pão.


Desta forma, quase toda a turma se pôs a trocar pedaços de pão durante o recreio.


A professora apercebeu-se das trocas e perguntou:


– Mas o que é que vocês estão aí a fazer?


Carlota e Remi contaram-lhe toda a história do pão dos outros.


E logo após o recreio, o que é que estava em cima da secretária da professora? …um pedaço de pão!


Toda a classe tinha os olhos postos na professora. Ela sorriu e comeu o pão.


E, no domingo seguinte, quando Remi viu a avó, era ele que tinha uma história para lhe contar:


– Sabes, avó? Olha, na minha turma…




Michèle Lochak


Le pain des autres


Paris, Flammarion, 1980

segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de Março - DIA DA MULHER



Em nome da justiça, seriam precisas muitas páginas para mostrar o número de Grandes Mulheres que passaram pela Terra, ajudando a
Humanidade a caminhar para o Bem.

Fica aqui uma pequena mostra, dessas Mulheres: Anne Frank (1929-1945), uma lutadora; Maria Montessori (1870-1952), educadora, médica e feminista; Amélia Earhart (1897-1937), pioneira na aviação; Marie Curie (1867-1934), apaixonada pela física e química; Joana D’Arc (1412-1431), santa heroína francesa; Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), solitário exemplo de compaixão. Muitos mais nomes havia a relembrar, mas não caberiam aqui como a sua beleza também não cabe aqui.

A este propóstito, partilhamos convosco uma frase de Arthur Schopenhauer: "A mulher é um efeito deslumbrante da natureza".

quarta-feira, 3 de março de 2010

Actividade com o 3º E

O alunos do terceio ano da turma E da Escola EB1 de Real deslocaram-se à biblioteca da EB2,3 para realizarem uma actividade de leitura.
A julgar pelas expressões dos rostos, adoraram e, ao que parece, querem repetir.

Até à próxima!!!


O LEÃO E O RATO

Lê atentamente a história que te apresentamos.

Depois de leres a história, vai aqui e verifica se efectivamente estiveste com atenção.

O leao e rato2

terça-feira, 2 de março de 2010

Clube Contadores de Histórias



Ainda há pouco a enorme duna fulgia de vermelho, mas agora, com o sol cada vez mais a pique, adquirira um brilho amarelo dourado. Ali, o burro, mal repara que as dunas haviam mudado de cor. Só dá conta de que o sol está a incidir-lhe no dorso, cada vez mais quente, demasiado até! Por volta do meio-dia, tornar-se-ia insuportável.
Ali detesta a duna. Detesta o sol que nela incide e aumenta a luz e o calor. Só quando descansa à sombra da palmeira, durante a pausa do meio-dia, é que Ali gosta do sol. Deita-se numa ilha fresca que paira numa concha de luz amarela do oásis. Vê como no começo do ano a cevada se ergue amarela dourada entre as palmeiras e, no Verão, espreita as tâmaras na copa das palmeiras. No entanto, os intervalos de descanso numa ilha fresca acabam demasiado depressa.
Ali põe um casco à frente do outro. As suas pegadas são imediatamente preenchidas até meio pela areia que desliza. Às costas leva pendurados, à direita e à esquerda, dois cestos, dos quais vão escorrendo duas tiras amarelas douradas, areia que o vento arrastara até às plantas do oásis. Ali carrega essa areia de volta para o outro lado da crista da duna.
Atrás de Ali segue Sidi Mohammed. Sidi Mohammed não leva nenhum cesto mas sim um pau, em parte para se apoiar e também para espicaçar Ali, quando ele se mostra cansado. Como Ali detesta a duna, cansa-se com mais frequência do que seria de esperar e Mohammed bate-lhe com o pau no dorso. Por volta do meio-dia, contudo, Ali sente-se realmente cansado. As pegadas parcialmente cobertas de areia dançam-lhe à frente dos olhos, e ele detesta não só a areia e o sol mas também Sidi Mohammed, que não lhe concede ainda descanso algum.
“Espera”, pensa Ali. “Espera! Qualquer dia fujo! Depois, carregas tu a areia às costas e bates no teu próprio traseiro quando andares devagar.”
Ali já tem três anos e é um burro adulto, mas ainda não viu nada do mundo, para além das palmeiras de Sidi Mohammed e, por cima delas, o céu.
Durante o intervalo do meio-dia, Ali mal olha para as tâmaras maduras. Perdido nos seus pensamentos, vai arrancando umas ervas e esfrega as costas contra uma palmeira. Isto é exactamente o mesmo que o coçar da cabeça de Sidi Mohammed. “Esta noite!”, pensa Ali. “Esta noite vou fugir daqui!”
Pelo lusco-fusco, Sidi Mohammed senta-se encostado à cabana. Assim que o sol desaparecer atrás da orla da duna, vai ficar mais fresco. Ali anda a pastar debaixo das palmeiras. Mal escurece, o dono dá um estalido com a língua. Ali acorre obedientemente e desaparece no interior do tabique.
O estábulo de Ali, feito de tábuas, é ao lado da cabana de Sidi Mohammed, e a porta abre para fora. Ali espera até que tudo esteja silencioso, depois levanta-se e força a cabeça pela frincha da porta. Sidi Mohammed tinha deixado a caixa de pé contra a porta. Esta cai no chão de areia. Cheio de medo, Ali espera uns momentos antes de meter o corpo pela frincha da porta. Nada, está tudo calmo!
As estrelas brilham tão intensamente que Ali consegue, sem dificuldade, ver as pegadas na areia. Não sabia que, de noite, as dunas eram tão frias. O ar também é frio. Ali está cheio de frio mas, sem os cestos, faz a subida rapidamente.
Na crista da duna volta-se mais uma vez. Ao fundo da duna, vê as folhas das palmeiras pretas e um ângulo da cabana de Sidi Mohammed. À frente dele, estende-se o deserto, o mundo onde Sidi Mohammed não manda.
E agora, para onde ir? Ali quer seguir em frente, mas em que direcção?
Quando, ao fim de muito tempo, a orla do céu começa a clarear e depois o sol se levanta rapidamente, Ali ainda está a caminhar sem ter visto uma palmeira. Não consegue deixar de pensar no poço de água do oásis. Mas a água, agora, está muito longe.
Terá seguido na direcção errada? Talvez os oásis, as palmeiras, os pastos dos camelos e os poços de água sejam na direcção do pôr do sol. Será melhor voltar para trás? Ali não sabia que também se fica cansado e triste sem cestos de areia.
As dunas sucedem-se umas às outras, todas iguais, como se Sidi Mohammed estivesse a rir-se dele. De repente, Ali dá de caras com um animal sentado, imóvel, na areia. Tem uma cauda espessa, orelhas grandes e pêlo amarelo claro.
— Quem és tu? — pergunta Ali. — Eu sou Ali, o burro de Sidi Mohammed.
O desconhecido olha-o de olhos arregalados de espanto, olhos espertos, e responde:
— Que és um burro, eu sei. Mas és um burro palerma, porque não sabes que eu sou um feneco, uma raposa do deserto.
Ali fica zangado mas, como há horas que não encontra nenhum ser vivo, não deixa transparecer nada. Talvez o feneco possa ajudá-lo!
— O que estás aqui a fazer? — pergunta Ali.
— Ando por aqui a vaguear.
— Também estás à procura de um novo dono?
— Eu não tenho dono, sou livre!
— E quem te dá água e comida? Não vejo por aqui uma única folha de erva!
— És mais burro do que o que eu pensava! Não sabes que todos os animais livres têm de tratar de si? Sou eu que caço as minhas presas, e eu mesmo procuro as nascentes de água. Dá-te por contente por eu não apreciar carne de burro!
— Eu não caço. Prefiro pasto de camelo! — explica Ali dignamente. — Erva é o melhor que podes imaginar! Água, dá-ma o novo dono que vou procurar.
— Aqui não há dono nenhum! — disse a raposa. — Nem erva nem água. Só areia!
— Onde é que há água?
— Isso depende. Se seguires em direcção ao nascer do sol, tens ainda um dia e uma noite pela frente. Se fores em direcção ao pôr do sol, tens meio dia e chegas a um oásis com erva suculenta e água doce. Era o melhor para ti.
— Para aí não quero ir! — atalha Ali rapidamente. — Até hoje andei lá a carregar areia às costas até à crista da duna! Já estou farto, quero ser livre como tu!
— Livre? Então também tens de ser tão rápido como eu e igualmente corajoso. Não podes ter medo da sede nem da fome, o calor e o frio não podem incomodar-te. Tens de amar o vento e a areia, tens de evitar os oásis para não seres apanhado pelos homens. E, além disso, precisas de um pêlo diferente. Os animais livres têm um pêlo amarelo cor-de-areia como sinal de que amam o deserto, mas tu tens um pêlo parecido com pó de argila.
Ali fica abatido. Não tinha imaginado que a vida em liberdade fosse tão difícil.
— Queres ser o meu dono — perguntou após uma longa pausa. — Queres mostrar-me como posso tornar-me livre?
— Não quero contrariar-te — respondeu a raposa — mas acho que foste criado para o oásis. Quem nasceu para o deserto sabe sempre o que quer. Tu tens muitas perguntas. No teu lugar, eu regressaria para Sidi Mohammed. Tornar-me-ia útil, para que ele gostasse de morar comigo no oásis dele.
— Eu sou muito útil! — explicou Ali com orgulho. — Sem mim, o oásis há muito que estaria enterrado na areia e não haveria mais tâmaras doces. Sidi Mohammed vai ficar triste por eu ter fugido.
— E que mais queres? Não é belo transformar a tristeza em alegria? Volta para trás, eu acompanho-te. Sinto simpatia por ti, embora sejas um burrito.
E foi assim que o burro e a raposa se puseram a caminho do poente, um com o pé leve, o outro com o coração pesado… pois Ali ia a pensar no pau de Sidi Mohammed.
Mas como Alá também ama os animais, enviou um sonho a Sidi Mohammed. Este carrega uma jeira de madeira sobre os ombros, de onde pendem, à direita e à esquerda, dois cestos de areia. Devagar, um pé à frente do outro, Sidi avança, ofegante, pela duna acima. O calor do dia é quase tão pesado como a areia que leva às costas. Atrás dele segue Ali. De cada vez que Ali se impacienta, bate com o focinho nas costas de Sidi Mohammed, de tal maneira que o pobre quase cai para a frente. Sidi Mohammed acorda completamente destroçado.
Quando, pela manhã, descobre que Ali fugiu, não fica furioso mas triste. Triste consigo mesmo porque, sem a ajuda de Ali, o bonito oásis ficará soterrado na areia. Sidi Mohammed não tem um camelo e, a pé, não pode ir buscar o burro. Só lhe resta esperar que Ali volte de livre vontade.
O sol já está a pôr-se quando os dois amigos tão diferentes chegam ao seu destino.
— Adeus! — diz a raposa. — Não posso acompanhar-te mais. Estive a pensar em ti. Não é vergonha nenhuma trabalhar no oásis. Quem trabalha é útil e, ao mesmo tempo, valente como os animais livres. Se quiseres, podemos ficar amigos!
— Adeus! — diz Ali, a pensar novamente no pau de Sidi Mohammed.
A raposa afasta-se. As suas patas calcam a areia como uma fiada de pérolas.
Ali inicia a descida até ao fundo do oásis, muito lentamente.
Quando chega às palmeiras, já é quase escuro. Sidi Mohammed está sentado, encostado à cabana. Levanta-se de um salto. “O pau!” pensa Ali, muito assustado. “Ele vai buscar o pau à cabana!” mas Sidi Mohammed não vai buscar o pau. Em vez disso, corre ao encontro de Ali e coça-lhe a cabeça atrás das orelhas.
— Seu desertor! — diz ele. — Ainda bem que voltaste!
Ali, de pé, está muito quieto e sente-se o mais feliz dos burros. E, antes de correr para o poço para finalmente voltar a beber, esfrega a cabeça, agradecido, na túnica de Sidi Mohammed.



Hannelore Bürstmayr
Grün wie die Regenzeit
Mödling, Verlag St. Gabriel, 1986
Tradução e adaptação

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