segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ler para Crer


Eu, sou o professor Carlos Fragoso, lecciono Inglês e Português e já “habito” esta escola há alguns anos (cerca de dez).

Tenho o hábito de ler desde… desde… verdadeiramente não sei. Apenas não me lembro de não ler. Na minha mais recôndita memória que tenho presente o livro. Na minha infância “devorava” BD, sobretudo os almanaques da “família Walt Disney” que, na altura, eram importados, pois não havia edição portuguesa. Portanto, líamos no original Inglês, percebendo algumas coisas e outras não, e era a imagem que, em muitas situações, colmatava a lacuna da descodificação da mensagem. Daí, foi uma verdadeira bênção o aparecimento da edição brasileira. Finalmente, podíamos perceber tudo ou quase!, porque, como sabemos, os nossos “irmãos brasileiros” têm lá as suas esquisitices linguísticas. Mais ou menos na mesma altura, durante a escola primária (ou do primeiro ciclo, como agora se diz), comecei a diversificar as minhas leituras e a procurar “os livros de aventuras”; foi aí que encontrei Enid Blyton, (muitos autores, um pouco por todo o lado, e em Portugal também, copiaram a ideia e o estilo), com as histórias dos Cinco, dos Sete, das Gémeas… Atrás dessas, surgiram outras aventuras, mais clássicas, como A Ilha do Tesouro, Alice no País das Maravilhas, Platero e Eu, O Livro da Selva, As Viagens de Gulliver, Oliver Twist, O Meu Pé de Laranja Lima,… as fantasias futuristas de Jules Verne,… as histórias da História, com os romances do Cristianismo, Quo Vadis, Fabíola, Ben-Hur, A Cabana do Pai Tomás… a revelação do Código da Cavalaria, com Robin dos Bosques, A Flecha Negra, Guilherme Tell, Os Três Mosqueteiros… a colonização do Oeste Americano, com Bufallo Bill, Entre Apaches e Comanches... as efabulações da Arábia, com as Mil e Uma Noites… e… muitos… muitos mais.
É no Liceu (na Escola Básica e Secundária, na linguagem deste tempo) que começa a descoberta da verdadeira literatura. Primeiro, a prosa e os autores portugueses e lusófonos (quase todos brasileiros). Depois, os clássicos universais. Insinuam-se, lentamente, Almeida Garrett, Eça, Camilo (o melhor escritor de Língua Portuguesa)… tantos, tantos, tantos… e o incomensurável Camões que abre as portas para a poesia, de leitura mais difíci.: Antero, Cesário Verde, Natália Correia, Manuel Bandeira, Eugénio de Andrade, Herberto Hélder, Ramos Rosa… é um nunca mais acabar de maravilhamentos.
A entrada na universidade (nos Estados Unidos da América) “obriga-me” ao conhecimento dos escritores de língua inglesa (a maior parte americanos) como Emily Dickinson, Melville, Thoreau, Emerson, Dickens, Willim James, John dos Passos, Walt Whitman, Steinbeck, Allan Poe (considerado o criador da narrativa policial), Henry James… e, claro, Shakespeare.

E leio porque, também, respiro. É inerente ao acto de viver. Os livros completam-nos, pertencem-nos como a um dedo. Como nos diz Jorge Luís Borges, são os leitores que vão enriquecendo o livro, ideia que Bernard Shaw patilhava, quando escrevia que um livro tem que ir mais longe do que a intenção do seu autor. Um livro é memória e imaginação e, por isso, uma biblioteca é uma espécie de câmara mágica, onde os autores estão sob o efeito de um encantamento esperando o leitor para sair da sua mudez. Ao abrir o livro, o leitor permite que a voz do autor se faça ouvir. Mas faz-se ouvir dentro de si mesmo e cruza-se com a sua própria voz, recriando o livro. Aqui reside a sua magia. É por isso que, ao relermos um livro, o livro não é o mesmo, a conotação das palavras é outra.

Neste momento, estou a ler The Return of Depression Economics and the Crisis of 2008 de Paul Krugman, um economista americano que nos dá a sua visão sobre o actual momento político e económico que o mundo atravessa; As Duas Sombras do Rio, de João Paulo Borges Coelho, um escritor moçambicano que reflecte sobre a guerra e a luta do povo pela sobrevivência; e uma antologia de poesia de Ezra Pound.

Quanto ao livro que mais me marcou, é impossível escolher um. Todos os livros nos marcam de uma maneira ou de outra, em diferentes momentos da nossa vida. Há livros que são imediatos, outros precisam de amadurecer dentro de nós. Outros, ainda, que nos buscam. E há aqueles a que regressamos para descobrir a sua plenitude. Somos, também, muito daquilo que lemos.

Portanto, Ler para SER!

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