Sou professora de História do Grupo 400 há 23 anos. Faço parte do Agrupamento de Escolas de Real desde 2005/2006 e chamo-me Maria Francisca Freire de Andrade.
Ao longo da vida os livros têm contribuído para a minha formação pessoal e assegurado muitas horas de prazer e bem-estar.
Recordo com muita saudade os livros que me acompanharam na infância! Não sei bem qual foi o meu primeiro livro! Tinha junto de mim, três irmãos mais velhos que muito cedo já conviviam com eles. Exerciam sobre mim uma forte atracção: a capa era o princípio desse fascínio, onde constavam letras bem desenhadas, títulos sugestivos, bonecos e pequenos animais cheios de cor! Nessa época não sabia ler e por isso, a minha mãe lia para mim.
Quando entrei para a escola primária, (nos anos 70), atual primeiro ciclo, a minha geração continuava a ler as obras infantojuvenis famosas como a Alice no País das Maravilhas, O Capuchinho Vermelho, O Gato das Botas, Os Três Porquinhos … Mas, o que nos deliciava era os livros da Anita; a personagem dos livros infantis escritos por Marcel Marlier e Gilbert Delahaye. Em Portugal eram editadas pela Editorial Verbo. Vi na internet que esta série conheceu uma tiragem total de cerca de 85 milhões de exemplares num grande número de países.
No segundo ciclo, 10/11 anos passava dias inteiros a ler (principalmente nas férias). Devorava As Gémeas, O Colégio das Quatro Torres, Os Cinco …Lembro-me de as livrarias, terem inventado os presentes de cheques livros e então podíamos comprar os nossos preferidos e evitar os repetidos. A operação à garganta foi marcante só por um motivo: consegui fazer toda a colecção das Gémeas - foi um consolo. Esta colecção é sobre duas gémeas Patrícia e Isabel O' Sullivan, que começam a frequentar o colégio de Santa Clara. Inicialmente, estas duas jovens, vão para o colégio contrariadas e são um pouco mimadas, sendo apelidadas pelas colegas como as "gémeas emproadas". No entanto, após algumas partidas que a colegas lhes pregam, acabam por ser rapidamente integradas. Nestes livros havia descrições dos piqueniques realizados pelos jovens com muitos pormenores da comida e das limonadas, mas o mais divertido e mais importante era realizarem-se à meia-noite! Transpondo para a vida real, criei com seis amigas um Clube, à semelhança das histórias dos Cinco, cuja sede era a cave da casa de uma delas. O clube tinha nome próprio e ninguém entrava sem pronunciar a senha secreta. As sete imaginávamos guiões para aventuras e cada qual interpretava uma personagem. Passámos dias de Verão e férias emocionantes! Por esta altura, já fazia uma espécie de biblioteca de amigas, para trocar os livros e sobretudo falar sobre eles. O pai da minha melhor amiga comprava dezenas de livros em segunda mão nos alfarrabistas da arcada e então eclipsávamo-nos! A mente estava a milhas! No verão o tempo repartia-se entre a praia e as leituras.
No liceu, (terceiro ciclo e secundário) iniciei a leitura dos clássicos ingleses, franceses, russos, norte-americanos e portugueses: O Velho e o Mar de Ernest Hemingway, Os Três Mosqueteiros de A. Dumas, O Principezinho de Antoine de Saint-Exupéry, Orgulho e Preconceito de Jane Austen, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, Ana Karênina de Léon Tolstoi, Madame Bovary de G. Flaubert, Eurico O Presbítero de A. Herculano (o meu herói), A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, Os Maias de Eça de Queirós, Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco. Tantas e tantas obras pertencentes ao património literário do mundo ocidental às quais me sinto fortemente ligada! Estas leituras de obras literárias acrescentaram à minha vida o conhecimento do contexto histórico em que foram escritas. Sem ter a preocupação de as estudar, repercutiram-se positivamente na minha vida escolar auxiliando-me no aperfeiçoamento da escrita. Desenvolvi valores pessoais e interpessoais de natureza sociocultural. O modo como apreendo a Europa e o mundo têm indubitavelmente a ver com as leituras que realizei. Na mesma altura lia muito Pearl S. Buck uma escritora estadunidense criada na China. Este país marcou-a extraordinariamente e por isso evoca a cultura chinesa na maioria de suas obras. Advogou muito pelos direitos que deveriam ser concedidos às mulheres e pela igualdade racial. No Fio da Navalha, de Somerset Maugham romancista e dramaturgo britânico foi igualmente um livro inquietante. A maior parte da história centra-se na Europa. O protagonista é um decepcionado veterano da primeira guerra mundial que abandona os seus amigos ricos e o seu estilo de vida e viaja para a Índia em busca da iluminação (misticismo oriental). Estas leituras alimentavam o meu gosto de ser antropóloga, socióloga ou jornalista, sonhos que não concretizei!
A par destas leituras sempre gostei/gosto de romances históricos. Experimentava a sensação de atravessar o tempo, transpor as fronteiras do espaço físico, viajar até lugares onde nunca estive realmente mas com os quais criei um imaginário indescritível e relaciono com outras manifestações artísticas. Dentre os romances históricos que me marcaram saliento A Amante do Tenente Francês, de John Fowles, Crónica do Rei Pasmado, de Torrente Ballester, Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, O Equador de Miguel Sousa Tavares, A Filha do Capitão de José Rodrigues dos Santos. Gostaria de lembrar todos os romances históricos de João Aguiar em particular A Voz dos Deuses que ao longo de sucessivas edições se tornou um "clássico" do romance histórico português contemporâneo.
Neste momento e como sempre, tenho vários livros à cabeceira. Estou verdadeiramente entusiasmada com um que se chama o Pergaminho da Sedução de Gioconda Belli. Conta a história de uma princesa, Joana, filha dos reis católicos que casa com Filipe, O Belo, e passa à História com o nome infeliz de Joana, a Louca! O que este romance traz à liça é a sua trágica história: enlouqueceu de amor, como conta a história oficial, ou foi vítima de traições e lutas pelo poder? Um apaixonante romance onde Joana de Castela regressa para contar a sua própria versão dos factos.
Vale a pena ler!
A Biblioteca Escolar Porto Maia promoverá no dia 2 de março sessões informativas sobre a gestão e a poupança do dia a dia. Estas sessões serão realizadas pela DECO, no âmbito do projeto Gerir € Poupar, e contam com o apoio da Associação de Pais da EB2,3 de Real e da direção de turma do 8ºD. 
